9.4.12

canção aos tintureiros


No ano de 1054 as coxas sardentas torciam um arco;
passava manteiga nos cabelos, untando-os como ripas
condenada quando a borracha rolou para o sul do juiz

Sobrando uma linha a ilha amanhou
uma árvore entre as pernas

Enquanto o monge distinguia
o canto das cotovias e
dançava-se o pássaro-negro

Enxame revoando contra a expansão
grudados na boa quantidade de óleo de linhaça;
você se lembra do que o mecenas fez com as telas?
Com as folhas cor-de-creme?
artíficie que é artífice
tem de saber dar formas
ao vento
mas nunca ele estamparia
a supernova

Comendo frutas congeladas
deram seus corações a certas estações
sem mais quem pudesse comê-los
o caranguejo, a nebulosa, a poeira do anticristo

II

Você me disse que não sairia mais à noite
até conhecer os nomes de todas as estrelas
eu conhecia as luzes de todas as esquinas
mas você podia desfazer ângulos

sentei antares em meu colo
e, patética
esperei que as velas-padrão se acendessem
para você olhar o céu

- não podemos dar formas, mas podemos dar nomes –
E eu prometi

o que eu gostaria de lhe contar sobre um meteoróide é
um meteorito
mas você sempre soube
que o meteoro é uma estrela cadente

mais brilhante da constelação de Leo é
apenas o anti-marte da sua pulsação

era 27 de maio
quando você derrocou
sagitarídeos chovendo com cintilação intensa
sua mão tão leve quanto o vácuo
expelindo luz
bem acima dos seus dentes

- se damos nomes a elas, somos estrelas –

caía em meus compartimentos
como ovelhas despencam em pastos
o segredo da tinta tumular
o índikon fermenta a folha verde n´água
lábios sobre a areia, dos tuaregues, a erva-de-anil
eu faria suas tintas

antares é maior do que o sol
e o coração é do tamanho da mão
sendo digeridos lentamente
a terra não abriria um vão por nós
se você me desse sob esse lume
a possibilidade de encontrar no mapa
um território
eu plantaria a anileira

- amarrar-me com as tripas para morrer em pé 
só que
se taparmos as cefeidas
nunca saberemos
quanto do universo arreda







2 ‘The blackbird’: dança tradicional irlandesa
3 supernovas: após explosões de estrelas, corpos celestes cujo brilho pode assemelhar-se ao de uma galáxia por até meses, se tornam velas-padrão para estudo de material inter-espacial.
4 SN 1054: supernova cuja poeira forma a nebulosa do caranguejo, vista em 1054 por chineses, árabes, mimbros e anasazi à luz de 23 dias e registrada nos anais monásticos irlandeses corrompidos como uma alegoria a respeito do anticristo.
6 cefeidas: estrelas variáveis gigantes, ou supergigantes, até quinze vezes mais massivas que o sol e 30.000 vezes mais brilhantes,  a respeito das quais Henrietta Swan (1910) observou que quanto mais luminosas fossem, maior seria o período de variação de seu brilho, das quais descoberta a magnitude absoluta, comparada à luminosidade aparente, permitem calcular sua distância e a de astros cada vez mais distantes no Universo; essenciais para o cálculo do valor da constante de Hubble que mede o ritmo de expansão do Universo. 

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